Inhotim
Galeria Miguel Rio Branco:
A visita à Galeria Miguel Rio Branco foi tocante e surpreendente. Antes de visitar o Inhotim nem sequer conhecia o artista e, consequentemente, não sabia qual era o direcionamento do seu trabalho, o que tornou a experiência ainda mais interessante.
O prédio no qual está instalada a exposição de Rio Branco é um pouco afastado da entrada do Inhotim, de maneira que o grupo teve que percorrer um considerável trajeto até chegar lá. O percurso não era tão simples e a sinalização no museu deixou a desejar, fazendo com que o grupo se perdesse algumas vezes até encontrar o caminho correto.
Ao avistar a construção, percebi que, em alguma medida, a galeria se misturava ao seu arredor, uma vez que a mata estava bastante alta ao seu redor e o tom de cobre que reveste o seu exterior se misturava com a vegetação quando visto à distância. No entanto, quanto mais você se aproxima do local, mais clara fica a distinção entre a natureza e o prédio com suas demarcadas linhas e ângulos.
Ao chegar à galeria, o grupo se direcionou a um espaço que ficava no andar térreo (andar 1) da construção, onde havia uma lanchonete que não estava em funcionamento e sanitários. Quando visitamos o local havia uma mesa onde fizemos um lanche coletivo. É muito interessante notar a abertura que o Inhotim dá aos visitantes para se apropriarem dos locais de diferentes formas, uma vez que não é qualquer museu que permitiria fazer uma refeição em grupo em suas dependências.
Depois de terminar o lanche, decidimos entrar de fato no prédio. Subimos uma escada recoberta por uma claraboia que permitia a entrada de muita luz. No entanto, ao abrirmos a porta de entrada da galeria (andar 2), o contraste foi completo. Na escada, tons claros e forte iluminação, no interior, paredes escuras e escuridão, de forma que as únicas coisas bem iluminadas eram as obras.
A galeria Miguel Rio Branco apresenta uma disposição espacial bastante labiríntica, não deixando ao espectador um trajeto claro a ser percorrido. A maneira de percorrer o local fica completamente a critério individual.
Ao entrarmos na galeria, o grupo se separou e cada um passou a fruir as obras individualmente. Após alguns minutos observando as pinturas e fotografias presentes na sala de entrada do local, alguns de nós optou por adentrar o corredor que ficava à direita da sala de entrada. Lá haviam duas salas, em uma delas passava um vídeo e a outra estava quase completamente no escuro, de forma que pudemos distinguir somente algumas poltronas e objetos no chão.
Optei por entrar primeiro na sala escura. A atmosfera era bastante assustadora, a escuridão não permitia ver quase nada e eu praticamente não conseguia sequer ver por onde andava. Embora fosse um cômodo bastante amplo, a sensação de estar lá era claustrofóbica. Algumas imagens estavam projetadas em uma tela da sala e objetos compunham um cenário montado no chão. Era um ambiente amedrontador e estar lá causava uma mistura de sentimentos de curiosidade, incerteza e inquietação.
Após alguns longos minutos, saímos de lá e entramos na sala em que passava o vídeo. O pequeno filme continha imagens de um local que parecia ser uma cidade fantasma. Como não tinha lido nada sobre a exposição ou sobre o autor, me restou assisti-lo e fazer suposições sobre o que ele retratava. As imagens de Miguel Rio Branco não se deixaram levar pelo clichê de associar um contexto pobre a sofrimento. Sem, de maneira alguma, "glamourizar" a pobreza, Rio Branco retrata aquela população a partir de diversos pontos de vista. Ele mostra conflitos, mostra as marcas no corpo daquele povo, mostra as enfermidades que os afeta, mas também mostra os relacionamentos, pessoas se divertindo, crianças brincando, sorrisos. O fotógrafo não reduz aqueles indivíduos a uma ideia única e estereotipada, mas amplia as perspectivas a partir das quais eles podem ser percebidos. Além disso, a música de fundo escolhida para o vídeo contribui para o efeito gerado por ele. Saí da sala impactada, incapaz de falar como eu me sentia e me questionando: onde será que isso foi gravado? onde será que se permite que uma população viva em um contexto de tamanho abandono? como pode ser possível abandonar um local e seus habitantes de maneira tão violenta?
Ao fim do vídeo, nos movemos até a outra sala no andar intermediário da galeria. Até aquele momento, a exposição tinha sido completamente contemplativa, de forma que o engajamento do espectador se dava por uma sensibilização dele pela obra, e não por uma interatividade. Nessa sala, no entanto, apesar de continuar tendo uma proposta fortemente contemplativa, o visitante ganha, em alguma medida, algum protagonismo. O local era revestido por uma série de tecidos pendurados no teto e nos quais estavam projetadas algumas imagens de animais ou as imagens presentes no vídeo assistido anteriormente. Era possível transitar em meio às telas, tocá-las, se inserir em meio às projeções, ou seja, embora a interatividade ainda fosse bastante restrita, a maneira com que as obras contemplativas foram dispostas no espaço permitia algum grau de inserção do espectador nelas.
Depois de algum tempo fruindo desse espaço, parte do grupo decidiu visitar o andar 0 da construção. O espaço que encontramos lá era completamente distinto da ambientação do restante do prédio. Enquanto os outros andares eram escuros, com um pé direito baixo, sendo praticamente claustrofóbicos, a sala do andar inferior era ampla, com paredes revestidas de um tom mais claro e com sua parte superior completamente revestida de vidro, permitindo a entrada de claridade. Além disso, a acústica desse local era bastante diferente do andar superior. Enquanto no andar 2 o som era "absorvido" pelas paredes, a sala ampla e vazia do andar 0 gerava uma sensação acústica desconfortável, com o som ecoando de maneira intensa quando a sala estava cheia e com um silêncio incômodo quando estava vazia.
Assim como o restante da exposição, as obras dessa sala tinham caráter essencialmente contemplativo.
Desenhos:
Impressões gerais do Inhotim:
O Inhotim é um museu a céu aberto com um enorme e diverso acervo de obras interessantíssima. A atmosfera do local é muito agradável e, embora se trate de uma natureza manipulada, muito bonita. O museu é repleto de construções interessantes e belas. As exposições são instigantes e muitas delas arrojadas.
Uma das coisas mais interessantes que eu percebi no Inhotim é a liberdade dada ao visitante. Lá, diferente de muitas outras exposições que visitei, não senti como se estivesse sendo vigiada e com minhas ações restritas. Ao contrário, em muitas galerias há um convite para a interação e para a participação do espectador, que é chamado a sair da condição de passividade.
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